Conselho de amigo
Nurembergue – Dezembro 1940
00:07h – Gabinete do Partido Nazista
Como todas aquelas noites, esta em
particular causara um temor especial, o frio que era barrado pelos vidros das
janelas não venciam seus opositores, cumprindo seu dever, o fogo na lareira
bruxuleava na parede norte, que por sua vez, ostentava a cruz gamada, que fora
delicadamente costurada a mão com fios de ouro em uma longa seda vermelha.
Na sala, uma mesa pesada feita de madeira
escura, talhada por escultores habilidosos, dava vida a figuras de floras e
faunas germânicas, nas suas extremidades, águias adornavam com beleza plena que
era de enganar os olhos fazendo qualquer mero mortal acreditar na vida em suas
pupilas envernizadas. Com asas grandes e bicos afiados, seriam de grande
inspiração para os exércitos nazistas a tal imagem encorajadora da ave de
rapina.
Dois oficiais, um general e um coronel,
vangloriavam-se frente ás ultimas vitórias, estudavam suas estratégias e
deliciavam-se com suas conquistas. Sobre a mesa, uma garrafa de vinho frisante
vindo da região de Champagne, na França. O prêmio reluzia a única luz dançante
amarelada provinda da parede norte, ao lado desta, jazia mais duas garrafas
vazias.
Agora ele decidiu ir para o fronte, depois
desta vitória criou coragem, irá se alistar e conta comigo para “agilizar as
coisas” – disse Hurtz, um general veterano de guerras – mas claro que não o
mandarei para a guerra.
Ora meu caro Hurtz, teu filho merece este
gosto, por ter o pai como exemplo desde a grande guerra que o consagrou.
Gustav – indagou o bêbado general – você
sabe que não fiz muito, você testemunhou – disse com modéstia Hurtz.
Como seu subordinado eu segui sua sábia
estratégia e por isso bebo e brindo – levantou-se e ergueu a taça em brinde na
direção das suásticas penduradas na parede norte – BEBO VIVO !
Salve Hitler – reiterou Hurtz
Um corredor longo, do lado oposto a
lareira que era adornada por ouro, mármore, marfim e pratas, acompanhada por
dois estandartes em seda vermelha da altura de todo o pé direito da parede
norte, com suásticas em destaque e em par, á direita e esquerda da fonte de
calor da sala, que do lado oposto obtinha duas folhas de madeiras grossas e
abertas compondo uma das mais belas portas do prédio.
No corredor enorme, com estátuas titânicas
em mármore de figuras mitológicas, revezavam com bandeiras do partido nazista
por toda a extensão do imponente caminho. Seu piso frio era de fácil
ressonância e de muito longe um som aumentara de forma gradativa até romper com
o dialogo dos vitoriosos oficiais.
O tenente Shimitz, em passos longos e
rápidos prosseguiu até parar diante a porta aberta, o que viu foi a silhueta de
um senhor de barriga aparente e outro esguio e alto em pé, prestando reverencia
a suástica da parede norte.
Salve Hitler! – apresentou-se Shimitz
Qual o porquê desta cara, homem? –
perguntou olhando por cima de seu ombro esquerdo o nobre Gustav.
O inimigo ousou e avançou, atacou Berlim
com uma aeronave, mas foi abatido. – afirmou Shimitz
COMO ISSO É POSSIVEL? – aos berros, Hurtz
levantou-se e com um potente soco na mesa, acabara de derrubar duas garrafas
vazias.
Na... Não sabemos Senhor!! – recuperou-se
do susto, o temente Tenente Shimitz nunca vira seu superior, mestre das armar
tão nervoso.
Para que serve aquela droga de radar,
aquilo funciona quando gira? – com seu humor totalmente invertido de um minuto
atrás, indaga o novo avanço tecnológico.
O avião não tinha hélices, com certeza é
movido a jato, mas nunca vimos uma tecnologia tão avançada, um avião deste
porte com a mobilidade apresentada não pode ser um dos nossos projetos
fracassados, porém, não tinha bandeira, sinal ou símbolo, suas asas eram
dispostas de forma inclinada para traz e um bico tão afiado quanto desta águia
– apontando para a águia esculpida na extremidade da mesa – A aeronave não
estava tripulada, não havia ogivas, portanto não era um projétil
intercontinental, mas não era espião, já que não tinha tripulação. Sua queda
não foi provocada por nossas defesas, mais pareceu um pouso forçado. Ela
lindamente prateada.
Gustav com um olhar fixo, fundo e quase
sem vida retrucou antes que terminasse sua narrativa de admiração.
Ordene que leve este objeto voador para o
centro de pesquisas e tecnologia de Berlim, não quero relatórios ou avisos,
apenas quem viu poderá participar da remoção dos destroços. Quero sigilo
absoluto. Fui claro soldado? - com rispidez ordenou Gustav.
Sim senhor – levantando a palma da mão
direita em continência e respeito, executou a meia volta tão bem ensaiada e
pelo frio e sinistro corredor, bateu em retirada. Em sua mente não via a hora
de sair daquele gabinete e resolver o mistério da aeronave que imitava as
rapinas.
Pra que tudo isso? Meu caro... –
questionou Hutz - é apenas um avião espião...
Sem Hélices? Sem pátria? Que voa tão bem?
Você sabe que os testes dos jatos não são satisfatórios para aeronaves
pequenas, seja em combate ou espionagem, e como ninguém ouviu sua chegada? Ora,
é um JATO!! Não meu caro, isso não e tão simples... – massageando o bolso
esquerdo de seu casaco, Gustav continua – está escrito isso, eu já sonhei com
esse dia...
Sonhou? Ora não me venha com crenças
agora! – levantou-se irritado o General Hurtz.
Neste instante, enquanto o general saia
indignado pelas palavras do colega, Gustav retira do bolso que pressionava
contra o peito um pequeno livro de capas negras e escritas douradas, joga-o
sobre o tampo de madeira, o livro com toda força pela qual fora arremessado,
desliza até a ponta, parando bem na escultura emadeirada da imponente águia que
havia no canto sul mesa.
Exatamente ao alcance do general que ali
passava a passos firmes.
Hurtz olha com desprezo para o pequeno
artefato de papel, encara o colega, pega o livro quase que por respeito ao
oficial e projeta um olhar de forma perfurante que significa: O que quer que eu
faça com isso?
Gustav de forma profética diz:
Apocalipse 8:13... Sou tão religioso
quanto você, amigo...